Padre Joãozinho, scj
Vamos avançar para águas mais profundas!
A parábola da lama
Numa
terra muito distante havia um rei que vivia feliz com seu povo. A terra
era generosa em flores, frutos e animais de toda espécie. A água
brotava generosamente de fontes que saciavam a todos. A paisagem era
paradisíaca. As riquezas naturais eram tantas que eles nem se importavam
com outras riquezas que dormiam embaixo de seus pés: ouro, prata e
ferros e todo tipo de metais que não faziam a menor diferença para o
povo do reino de Miraflores.
Mas
um dia chegaram magos do oriente e pediram para falar com o rei. Vieram
com o mapa da mina. Tinham uma conversa sedutora. Diziam que o país era
pobre e precisava explorar os minérios para ficar entre as primeiras
nações do planeta. Os milagres eram fantásticos. Chegaram a sugerir que
se mudasse o nome do país para Miraferro. O rei ouviu atentamente e no
final fez apenas uma pergunta: “Mas onde seriam colocados os rejeitos da
mineração? Afinal, toda riqueza exagerada produz algum lixo! Onde este
resíduo seria depositado para sempre?
Os
magos trouxeram longos projetos que descreviam uma engenhoca feita de
balões lixeiros. O rei ficou admirado. Não sabia se estava entendendo
bem. O lixo seria guardado no céu? Em cestos de balões? Sim. Mas com
absoluta segurança. E onde ficariam os balões? Os magos explicaram que
ficariam sobre as cidades, florestas, rios e mares. O rei ficou
desconfiado. Mas seria seguro? Não existe risco de um destes balões cair
sobre a cidade ou mesmo sobre o Rio Maravilha que corta o reino? Os
técnicos explicaram detalhadamente que o risco seria de apenas 1%.
Desprezível. O rei consultou sua corte. Os nobres nem esperaram falar do
risco. Todos estavam convencidos que o projeto era ótimo, pois na
véspera haviam recebido dezenas de presentes dos Magos: roupa nova,
carro novo, casa nova. Estavam literalmente a favor. O rei, então,
autorizou o começo da mineração.
No
começo tudo foi muito tranquilo. Um grande progresso chegou ao reino.
Os exploradores eram discretos e os balões-lixo ficavam fora das vistas
do povo. E, como sabemos, o coração não sente o que os olhos não veem.
Mas os anos se passaram e o lixo foi aumentando. Aos poucos era possível
ver os balões sobre a cidade e, principalmente, ao longo de todo o Rio
Maravilha. Os técnicos diziam que, com isso, reduziriam os danos. O rei
chegou a perguntar: “mas que dano?”. No caso de algum balão cair,
explicaram. O rei disse assustado: “Mas existe risco?!” Eles
responderam: “acalme-se… nada mais do que 5%”.
Um
dia o povo começou a estranhar que o sol não nasceu. Todos saíram para a
rua e viram que existia tamanha quantidade de balões que já não era
possível ver o sol. Os Magos compraram mais casas para os nobres e
construíram um palácio novo para o rei e até para os pretendentes de
rei. Todos, então, ficaram calmos, sob a sombra da tragédia iminente,
afinal, o risco não ultrapassava 10%.
Mas
aconteceu o que ninguém esperava. Um dos balões caiu sobre o Rio
Maravilha. Algumas pessoas foram atingidas pela chuva de lama tóxica.
Logo os técnicos foram a rei explicar que o plano havia dado certo. A
cidade nada sofrera. O balão tinha caído sobre o Rio. Logo a lama
desapareceria e a vida voltaria ao normal. Passaram-se os dias e a lama
continuou avançando. Matou os peixes e as esperanças dos pescadores. Os
indígenas viram seu rio sagrado morrer. Cidades ficaram sem água e o
comércio foi atingido. A vida no reino nunca mais foi a mesma. As flores
pararam de sorrir. Tartarugas fugiram no momento da desova. Caranguejos
foram assassinados no mangue. A flora que habitava feliz abaixo das
águas do doce rio foi exterminada cruelmente. Os rejeitos chegaram ao
mar e atingiram o mundo inteiro.
O
rei ficou muito triste e decretou que, na verdade, se tratava de um
lamentável desastre natural. A corte fez cara de poucos amigos, mas
preferiu manter as casas e carros recebidos da mineradora. A cidade
ficou confusa, pois estava totalmente dependente da mineradora. Os
pássaros não tinham mais onde pousar. Alguém explicou na escola para as
crianças que um dia Miraferro já havia sido Miraflores. Um menino
qualquer perguntou: “E onde estão as flores, professora?”
Então
o rei chamou os magos e perguntou: “O que faremos com os outros 700
balões que estão sobre nossas cabeças? Eles responderam: Não se preocupe
majestade. O risco é de apenas 1%. E viveram infelizes para sempre no
reino de Miralama.
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